Imagine um
país onde cada palavra em sua língua oficial tivesse um significado distinto. E
que do nada um indivíduo começasse a modificar significados e os “embaralhasse”
conforme seu talante, sua vontade.
Este é o
efeito de certa “doutrina da opinião” em que a atualidade me parece caminhar.
Posso parecer exagerado por haver dado como exemplo um país, mas olhe para o
dicionário, procure algumas palavras que você conhece, mas desconhece os
significados e consulte o livro. Dou como exemplo a palavra hipocrisia. Eu não
sabia seu significado, mas chamei pessoas de hipócritas, porém ao consultar o
dicionário, vi que usava uma palavra que em minha “opinião” não significava
isso.
Não é
preciso dizer que isso acontece com vários significados (sentidos) e definições
(explicações).
Uma vez uma
moça muito me criticou.
Eu como espirita desde os nove
anos de idade pensei em possuir uma verdade absoluta quando o assunto era
religião. Mas para alguns não é aceitável que terceiros tenham uma verdade
absoluta, e realmente devido a minha inexperiência, não a tinha, como não a
tenho ainda.
Ela me “forçava” a sempre que
dissesse algo, falasse “na minha opinião” antes do inicio da argumentação.
Confesso que foi para meu orgulho algo desagradável. Ainda o é.
Se tudo é opinião, o que é
real? A opinião é ideia pessoal!
Uma língua
onde cada um dá um significado diferente a cada palavra tornasse incomunicável,
assim como numa ciência em que cada uma de suas definições se modificasse para
cada pessoa tornar-se-ia inútil, pois suas áreas ficariam mais vagas a cada dia.
Não,
leitor. Eu não acho que as opiniões deveriam cessar, pois sei que isso seria
antinatural e estou prestando opinião.
Certa vez outra
moça ouvia uma argumentação minha. Ela não concordava com o que eu disse, mas
em vez de falar sobre o que ela discordava, ela preferiu dizer:
- É tudo
sua opinião Ewerton!- com certo ar de desprezo, como se o fato de algo ser “opinião
de Ewerton” fosse o suficiente para propor uma contra argumentação para
invalidar o argumento dado.
Muito do
que acontece é ponto de vista, mas ainda existe o real. Gatos pretos serão
pretos e isso é independente de opinião. A realidade é independente de opinião.
Posso um dia até mudar de ideia naturalmente, mas eu sei que a opinião morre em
face da verdade. Não digo ideologia, religião ou qualquer ferramenta de suposições
e criadoras destas “doutrinas de opiniões” e sim a verdade, a verdade que há,
havendo elas alcançado parte dela ou não.
Esse assunto é bastante complicado. Acho que falei em outras postagens sobre o embate entre o subjetivo e objetivo, ligado também às relações impessoais.
ResponderExcluirPara convencer uma pessoa, é preciso saber se comunicar com ela, obviamente, isso em si já é um dado impessoal, a utilização de um meio de comunicação comum aos dois. Comprar uma maça também, não é preciso chegar e dizer ao vendedor "ei, eu vou dar esse papel aqui em troca da sua maça, ok? Ele vale a maça que você tem".
A opinião é pessoal, mas é uma opinião sobre algo, esse algo é comum a todos (aqui desconsideraria uma vida em outros planetas xD), e aí se encontra a possibilidade de discutir a opinião. A forma de uma pessoa ver o mundo não é fixa, vamos mudando as opiniões ao longo da vida, de forma direta ou indireta.
Em alguns casos essa opinião envolve elementos pouco presentes no mundo objetivo compartilhado, mas ela não é destinta desse mundo. Podemos falar em dimensões paralelas, espíritos, encarnação humana de um deus, um deus em si, mas falamos sobre tudo isso utilizando um ponto de vista humano. Kant percebeu que o homem dobra os fenômenos à sua percepção e lógica. Já me disseram que é impossível pensar em algo que não existe.
Isso me leva a crer que qualquer opinião é discutível, ainda que nem sempre se chegue a acordos. Discutir opiniões é enriquecer uma visão de mundo, aprendendo sobre a perspectiva do outro e comparando com a sua. Tem pessoas não discutem opiniões porque tem medo, ou porque ouviram coisa parecida e formaram um rótulo sobre aquele assunto, se fechando para novas visões sobre ele.